terça-feira, 26 de maio de 2015

Vale a reflexão

IMPRENSA EM QUESTÃO > ‘O GLOBO’ & ‘EXTRA’

Uma empresa, dois jornais. Um abismo

Por Sylvia Debossan Moretzsohn em 26/05/2015 na edição 852


Quem pensa que os jornais produzidos por uma mesma empresa falam sempre a mesma língua, diferindo apenas na linguagem adotada de acordo com o seu “público-alvo”, teve uma surpresa diante do abismo entre O Globo e o Extra na cobertura do assassinato do médico Jaime Gold, que pedalava pela Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões postais do Rio, no início da noite de terça-feira (19/5). Sobretudo porque, no mesmo dia, dois jovens – um adolescente de 13 e um rapaz de 24 – foram assassinados durante uma operação da Polícia Civil no morro do Dendê, na Ilha do Governador. O médico morreria na madrugada seguinte, depois de horas na mesa de cirurgia.
Na quinta-feira (21/5), O Globo destacava na primeira página o “crime na Lagoa” e a “tragédia anunciada”, dedicando-lhe nada menos do que cinco páginas internas. A suíte das mortes no Dendê mereceram apenas duas colunas espremidas no meio de outra página interna, ainda assim assinadas – como na véspera – por um repórter do Extra.
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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Umberto Eco e o manual do mau jornalismo

por AFP — publicado 18/01/2015
"Número Zero", novo romance do escritor italiano, é ambientado em 1992 e mostra a história de um jornal criado para difamar
Por Kelly Velazquez
O famoso escritor e ensaísta italiano Umberto Eco apresentou nesta semana na Itália seu novo romance, Número zero, uma espécie de manual do mau jornalismo ambientado na redação de um jornal imaginário.
O novo livro do influente intelectual italiano, autor do famoso romance O nome da rosa e de importantes tratados de semiótica, é uma história de ficção ambientada em 1992, um ano particular para a Itália contemporânea, marcado pelos escândalos de corrupção e pela investigação "Mani Pulite" (Mãos limpas), que arrasou com boa parte da classe política da época. Leia íntegra do texto clicando aqui

CRISE: O LIDE DE TODAS AS REVOLUÇÕES



“Se você tivesse a infelicidade de matar sua amante, eu o ajudaria a esconder seu crime e ainda poderia estimá-lo; mas, caso se tornasse espião, eu fugiria horrorizado pois você estaria adotando a covardia e a infâmia como sistema de vida. Em poucas palavras, é isso o jornalismo.” 
Honoré de Balzac em Um grande homem da província em Paris, 1839.

A cada ostentoso e assertivo discurso de como o jornalismo vem perdendo seu caráter de mediação da Verdade de maiúscula sacralizada, é preciso lembrar de Lucien. Cada vez que um arauto do jornalismo invoca a gênese iluminista, redentora e antiaristrocrática da notícia, é preciso lembrar de Lucien. E sempre quando alguém ressuscita Machado de Assis em sua nobre definição do jornalismo como uma “hóstia social da comunhão pública”, precisamos escutar os ecos não tão distantes de Lucien Chardon, personagem de Balzac que, na primeira metade do século 19, soterrava a ideia de que o jornalismo pudesse ser a nobre e imparcial atividade da mediação entre fatos e pessoas. Precisamos lembrar da saga de Lucien para se tornar um jornalista porque já ali, muito antes da ideia de que a imprensa vive uma grande e “nova” crise ética e financeira, Balzac dava aos donos de jornais a alcunha de “coronéis” e definia o jornalismo não muito simpaticamente como “um abismo de iniquidades, mentiras e traições”. 

Publicado originalmente no Suplemento Pernambucano. Leia íntegra clicando aqui